quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Clarice Lispector entrevista Oscar Niemeyer


No Livro " De Corpo Inteiro"  Clarice Lispector entrevista Oscar Niemeyer

“Nascemos para amar”





Ninguém precisa apresentar o gênio da arquitetura moderna, Oscar Niemeyer. Todos sabem que Lúcio Costa fez o traçado de Brasília, e Orçar a sua arquitetura: uma arquitetura que ultrapassa a nossa época e atinge plenamente o nosso futuro.  
Entrevistei Niemeyer. 
É um homem com maneiras simples, sem vaidades, sem formalismo, com olhar um pouco melancólico um pouco desiludido e cansado com Brasília: é com o nosso mundo, tal qual nele vivemos. 


Veja também o filme documentário: http://filmow.com/de-corpo-inteiro-entrevistas-t12139
 
CL - Por que arquivaram seu plano para a execução do aeroporto de Brasília?
ON - A Aeronáutica não pretendia recusar meu projeto. Recusou-o o Brigadeiro Castro Neves, com a mesma arbitrariedade com que meses antes demitiu cerca de cinqüenta professores do Centro Técnico da Aeronáutica de São José dos Campos,atitude que não se recomenda num país como o nosso, onde faltam técnicos e professores e que, no caso do aeroporto de Brasília, muita coisa pode explicar: o desrespeito pela nova capital, pela prefeitura e pelo Congresso, a intransigência que impediu o diálogo, como se, diante de problemas nacionais, homens da direita não pudessem se aproximar e entender. Explica também, as manobras ridículas que o pequeno grupo da esquerda não pudessem se aproximar e entender. Explica, também, as manobras ridículas que o pequeno grupo da Aeronáutica – que não a representa – adotou para impor o monstrengo em execução, declarando publicamente ao Congresso tratar-se de um aeroporto militar, para, depois, contradizendo-se, comunicar à Justiça Federal que a obra em realização será a maior estação de passageiros da América Latina. Tudo isso levou-nos à ação popular que acompanhamos tranqüilos. Nosso objetivo é paralisar a obra e, principalmente, denunciar o brigadeiro Castro Neves por esse crime contra a nova capital, impondo-lhe uma estação de passageiros que não tem nada a ver com a sua arquitetura. Quando combatemos o projeto apresentado pela Diretoria de Engenharia da Aeronáutica, não procuramos atingir nossos colegas daquela repartição, mas a interferência negativa do brigadeiro Castro Neves nesse projeto, comprometendo-o irremediavelmente.

CL - Acha que Brasília, depois de pronta, em sua essência, atenderá ao ideal democrático que sua arquitetura pretendeu quando a planejou?
ON - Arquitetura não impede nem sugere determinada política. No Palácio do Planalto, por exemplo, previ uma tribuna externa e dela, infelizmente, o povo brasileiro nunca ouviu as decisões que reclama. Mas somos otimistas. Um dia ela terá utilização justa. Afinal, o Palácio é do povo e as minorias dominantes não poderão substituir.
CL- Oscar, qual seria a solução arquitetônica que você daria às favelas cariocas?
ON- Nenhum arquiteto consciente se propõe a resolver o problema das favelas. Sabe que a miséria decorre da injustiça social e que o êxodo do homem do campo em busca dos grandes centros tem sua origem na situação desesperada de exploração e miséria que há séculos o persegue. Trata-se, por tanto, de um problema social que somente uma modificação de base poderá resolver. Por todas essas razões, para o arquiteto realmente empenhado no problema, a solução lógica é integrar-se nos movimentos progressistas que visam à reforma da sociedade. Quando um arquiteto insiste na importância da arquitetura social e nas formas simples e pré-fabricadas que sugere, esquece que essa arquitetura só é válida em país socialista. Nos outros, nos países capitalistas como o nosso, ela se limita a pequenas realizações demagógicas, fora da escala que o problema estabelece. É possível apenas mudar as favelas de lugar. Para extingui-las, teríamos que ir fundo no problema que se baseia na discriminação social e, desculpe o lugar-comum, na exploração do homem pelo homem.

CL- Eu uma vez escrevi: “A construção de Brasília: a de um Estado totalitário”. Que é que você acha dessa minha impressão, Oscar? 
ON- Quando Brasília foi inaugurada comentei no meu pequeno livro minha experiência em Brasília o seguinte: “Com a mudança de capital, Brasília mudou muito e vemos com pesar que o ambiente se transformou por completo, perdendo aquela solidariedade humana que antes o distinguia, que nos dava a impressão de viver num mundo diferente, num mundo novo e justo que sempre desejamos. Vivíamos naquela época como uma grande família, sem preconceitos e desigualdades. Morávamos em casas iguais, comíamos nos mesmos restaurantes, freqüentávamos os mesmos locais de diversão. Até nossas roupas eram semelhantes. Unia-nos um clima d de confraternização proveniente de idênticos desconfortos. Agora, tudo mudou, e sentimos que a vaidade e o egoísmo aqui presentes e que nos mesmos estamos voltando, pouco a pouco, aos hábitos e preconceitos da burguesia que tanto detestamos. Passamos a nos preocupar com a indumentária e a freqüentas locais de luxo e de discriminação. Vemos os nossos companheiros – os mais humildes – apenas de passagem e sentimos que uma barreira de classe nos separa. Nossas casas perderam aquele aspecto proletário que antes os atraiam, como se fossem as suas próprias casas, ou um prolongamento do nosso escritório, e o conforto de que hoje desfrutamos – embora modesto – os assusta e os intimida, retendo-os à nossa porta, como aguardando um convite indispensável. A conversa perdeu aquele calor humano – simples e inocente – que nos refazia, conduzida agora pelos que chegam – com nossa repulsa – para assuntos de lucros e especulações. Apenas aqueles companheiros não mudaram, com as misérias e reivindicações de sempre. Brasília mudou e isso nos deprime, apesar de compreendermos as contingências decorrentes da cidade que cresce e que durante algum tempo, pelo menos, representará o regime capitalista, com todos os seus vícios e injustiças. Somos, entretanto, otimistas. Breve, a ilusão que perdemos será realidade”.

CL- Eu uma vez escrevi: “Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, dois homens solitários”. Também escrevi: “Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia, vêem nisso uma acusação; mas minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto deles e deixariam o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um mistério”. Que é que você acha disso, Oscar? 
ON- Sua observação me deixa satisfeito. Meu intuito ao projetar a arquitetura de Brasília foi, antes de tudo, fazê-lo diferente e, se possível, plena de surpresa e invenção. Pretendia uma arquitetura que a caracterizasse e, nesse aspecto, sinto-me realizado, vendo que seus elementos arquitetônicos – as colunas do Alvorada, por exemplo – vão se repetindo, repetindo, utilizados nas formas mais diversas (construções, objetos, símbolos etc.). Um dia, há dois anos, passava por uma rua em Paris, quando vi, surpreso – estávamos no Natal – as colunas do Alvorada construídas em tamanho natural, como decoração do edifício da Kodak. E agradou–me mais ainda ouvir certa vez de André Malraux esse comentário: “as colunas do Alvorada são elementos arquitetônicos mais importantes depois das colunas gregas.”   

CL- Por que você acha que escrevi: “quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Havia um táxi parado. Sem chofer.”
ON- Porque Brasília lhe parece uma cidade sem vida. Volto a André Malraux. Quando Le Corbusier comentou que Brasília estava ameaçada de abandono pelo governo de Castelo Branco, ele respondeu: “Será uma pena! Mas que belas ruínas teremos.”

CL- Eu escrevi: “A alma aqui não faz sombra no chão.” “É urgente: se não acontecer, será demais: não haverá lugar para pessoas. Elas se sentirão tacitamente expulsas.”
ON- O vazio da nova capital, ainda em construção, volta a impressioná-la. Se os operários que a construíram nela estivessem vivendo, se a sociedade fosse mais justa e a vida boa para todos, talvez Brasília não lhe desse esse sentimento de angustia e solidão. Afinal, Brasília já conta com cerca de 300 mil habitantes, mas a grande maioria, infelizmente, não vive e nem participa da sua vida.

CL- Quais são os seus projetos agora, Oscar? 
ON- Meus projetos se adaptam às circunstancias e às convocações que recebo. Agora, por exemplo, sigo para a Argélia, convidado pelo governo argelino para elaborar o plano urbanístico de Argel, o Monumento à Revolução, a Universidade de Constantino e um centro esportivo. Os temas me atraem e por outro lado trata-se de um país como o nosso, cheio de problemas e esperanças. Vou primeiro a Argel, depois a Paris assistir ao lançamento da pedra fundamental do edifício sede do PCF, daí seguindo para Portugal, Madeira e Líbano, a fim de supervisionar meus projetos. Como você vê, encontro fora do Brasil uma receptividade que me comove. É arquitetura que se impõe e se divulga por todo o mundo.
CL- Quais as características da arquitetura brasileira?
ON- a arquitetura brasileira assumiu desde os primeiros tempos uma posição definida e própria no movimento moderno, ingressando corajosamente nas formas livres e inovadoras que hoje caracterizam. Ao contrario do “ângulo reto”, eram a curva e suas relações com o concreto armado e nossa tradição barroca que nos atraiam. Hoje, passados muitos anos, recordamos com agrado esse período importante da nossa arquitetura; as críticas fáceis que a ignorância e a insensibilidade permitiam, críticas que os arquitetos do mundo, cansados de tanta repetição, hoje repudiam, atraídos como nós para a invenção arquitetural. Fomos os primeiros a recusar o funcionalismo absoluto e dizer francamente que a forma plástica em certos casos (quando o tema o permite) pode prevalecer, que a beleza é uma função e das mais importantes na arquitetura. Alguns arquitetos de outros paises publicamente nunca os admitiram. Estas as características que se mantêm inclusive nas obras pré-fabricadas destinadas à coletividade, sem prejuízo de suas razões fundamentais, de tempo e de economia.
CL- E o caso Kennedy?
ON- Shiran Shiran é um pobre-diabo e os motivos que apresenta para explicar seu crime – ódio a Kennedy e de Luther King estão na mesma linha de violência e, a meu ver, os reacionários, os racistas, os grandes trustes e o império industrial militar é que poderão explicá-los. É a reação que, alarmada diante do mundo melhor que desponta,recorre à violência, à guerra e à mistificação. Mas a própria guerra do Vietnã nos faz otimistas, mostrando aos povos subdesenvolvidos que o poderio se abala quando a razão, a coragem e a determinação estão presentes.
CL- Que pensa da nossa juventude? 
ON- Quase sempre julgamos a juventude pensando na juventude de nossa geração. Esquecemos que hoje ela está mais adulta, mais esclarecida e interessada em todos os problemas da época. Daí sua revolta diante desse mundo de privilégios, guerras e preconceitos. Representa um movimento de esquerda, porque para a esquerda segue a humanidade. Um movimento indefinido, mas cheio de espontaneidade e de idealismo. Somente os reacionários, os donos do dinheiro, dos privilégios e preconceitos a combatem. A juventude representa o futuro, o mundo melhor que até hoje não conseguimos construir. Você esta me perguntando qual é a coisa mais importante do mundo, qual a coisa mais importante para a vida de uma pessoa como individuo, e o que é o amor. Respondo-lhe: saber situar-se neste mundo de alegrias e tristezas em que vivemos, certos de que não estamos sozinhos, que milhões de criaturas nos cercam e que a vida é injusta e sem perspectivas. Sentir a fragilidade das coisas e a pouca importância de tudo que realizamos; ter prazer em ser útil e solidário com os que sofrem, usufruindo da vida os momentos de prazer e ilusão que ela nos propicia; dar ao amor o sentido universal que merece.
Nascemos para amar. Para isso, sem consulta, fomos depositados neste planeta.
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OSCAR NIEMEYER-O grande nome da Arquitetura Modernista. Entre suas obras mais importantes destacam-se os prédios governamentais de Brasília (Palácio da Alvorada, palácio do Planalto) além da Catedral e do Congresso Nacional. Em Belo Horizonte, o Conjunto da Pampulha; no Rio de Janeiro, o Sambódromo. Integrou também as equipes que projetaram a Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, e o Ministério da Educação e saúde, hoje Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

SIGNIFICADO DA PALAVRA NOITE :
Em muitos idiomas europeus, a palavra NOITE é formada pela letra N + o número 8 na respectiva língua. 
A letra N é o símbolo matemático de infinito e o 8 deitado também simboliza infinito, ou seja, noite significa a união do infinito, em todas as línguas, veja:
  • Português: noite = n + oito
  • Inglês: night = n + eight
  • Alemão: nacht = n + acht
  • Espanhol: noche = n + oche
  • Francês: nuit = n + huit
  • Italiano: notte = n + otto

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

COBOGÓ - qual a origem desse nome estranho...

Cobogó é o nome dado ao elemento ou tijolo vazado.
Seu nome vem das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros, que trabalhavam no Recife, no século XX e conjuntamente o idealizaram:
Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de is, que registraram a patente e o nome em 1929.

No RJ onde nasci, me formei e sempre trabalhei com construção civil, sempre falei Cobogó, porém ao chegar em SP descobri que eles não conheciam essa palavra e só falam "elemento vazado", só que p/ mim isso representa um

O mais engraçado é que mesmo no Rio ou em outros estados do Norte e Nordeste onde esse produto é usualmente chamado assim, várias pessoas, inclusive do ramo da construção, não conseguem pronunciar corretamente, e vira uma gozação... elas dizem: congogó, bobogó, combongó, cogogó!!!!!
Gente...é tanta criatividade!

Estes elementos eram originalmente feitos em concreto ou porcelana, e possuiam as cores da época: amarelinho, verde agua, rosinha, azul geladeira ou azul calcinha...kkkk

Mas tem alguns modelos que, quando bem aplicados e projetados, até que ficam bem legais e modernos!
Vejam algumas opções:

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"LIBERDADE" - Libertad do escultor Zenós Frudakis - Filadélfia

O escultor Zenós Frudakis, nascido em 1951, vive na Filadélfia e cria essas GENIALIDADES!!! Liberdad foi criada em 2001 para a sede da Glaxo Air Force na Filadélfia.
Como pode essa "Liberdade" nos Prender tanto??? os olhos ficam fixos, o tempo pára, a emoção aflora, o sentimento de liberdade nos provoca! Uallll



Simples assim...genial assim!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O que acontece no meio - Martha Medeiros

No final do ano, de passagem pelo RJ, tive a grata supresa de abrir uma revista do Jornal O Globo e ler esse texto maravilhoso da Marta Medeiros! muito apropriado p/ um Natal e início de novo ano, e muito bom p/ quem já está no meio (quase 1/2 século) como eu! (clique na imagem p/ ampliar o texto e se delície!!!)